Data: 25/02/2019

Em um sistema de criação animal, o manejo alimentar feito de forma eficiente é um fator determinante no sucesso do negócio. Em um ambiente de produção de organismos aquáticos (aquicultura) não é diferente.

O balanceamento adequado de dietas para a alimentação de peixes requer estudos das necessidades nutricionais para maximizar crescimento e reprodução.

Através da otimização dos ingredientes utilizados, é possível aumentar a performance da criação, saúde dos animais e a partir da redução da emissão de poluentes no ambiente aquático, manter a qualidade da água dos viveiros.

Como consequência da má formulação de dietas, há:

  • Queda no desempenho dos animais;
  • Aumento dos custos com alimentação;
  • Aumento do tempo de criação para o abate;
  • Decréscimo dos lucros da atividade;
  • Decréscimo na qualidade da água.

 FARINHA DE PEIXES – O PROBLEMA DE SUA UTILIZAÇÃO

Na aquicultura, o ingrediente comumente utilizado em dietas é a farinha de peixes. Esse insumo é um produto comercial feito de peixe inteiro ou resíduos do processamento como ossos, nadadeiras, pele, escamas e miúdos de peixe processado. Que é o caso da maioria das farinhas de peixe com disponibilidade atualmente.

Trata-se de um produto oriundo do cozimento, secagem, prensagem e moagem dos ingredientes e sua apresentação final consiste em um pó de coloração marrom. Apesar de muitas pesquisas já realizadas, a farinha de peixe ainda continua sendo um dos principais componentes no balanceamento de dietas na aquicultura.

No entanto;

Os alimentos à base de farinha de peixe são conhecidos por variar muito em sua composição, o que dificulta a padronização em relação a um balanceamento adequado das dietas e apresentarem altos teores de matéria mineral (às vezes superior a 20%) e Fósforo que apresenta alto impacto à qualidade de água e ao meio ambiente.

Fontes de proteína vegetal, como farelo de soja e derivados de milho como o gluten, são boas fontes de proteína em substituição a farinha de peixe. No entanto, apresentam aminoácidos limitantes.

Porém, tais ingredientes vegetais também podem conter substâncias antinutritivas – como o ácido fítico -, menor taxa de digestibilidade dos aminoácidos, alto teor de fibra e baixa disponibilidade de fósforo.

PROTEÍNA NA DIETA


Dentre os nutrientes a serem fornecidos, a inclusão de proteína é o que apresenta maior importância em dietas de peixes.

A proteína é definida como uma macromolécula formada por uma sequência de aminoácidos unidos por ligações peptídica. Os peptídeos são moléculas orgânicas que apresentam em sua estrutura dois ou mais aminoácidos, ligados a partir de ligações peptídicas.

A sequência de aminoácidos, a presença de aminoácidos essenciais e sua digestibilidade são as características que diferem cada proteína e seus respectivos valores biológicos.

Proteínas que contêm maior quantidade de aminoácidos essenciais são definidas como proteínas de maior valor biológico.

Portanto;

A inclusão de proteína de alta qualidade (alto valor biológico) na alimentação dos peixes está diretamente relacionada ao desempenho de crescimento.

Ou seja, a qualidade da proteína, definida pelo perfil de aminoácidos que a constitui e a qualidade da fonte proteica fornecida está relacionada com o perfil de aminoácidos essenciais disponíveis e digestíveis.

DIGESTIBILIDADE DE NUTRIENTES


A taxa de digestibilidade de nutrientes é determinada pelo percentual do nutriente que é ingerido e absorvido pelo organismo do animal.

Em outras palavras;

A quantidade de proteína digestível é definida pela quantidade de proteína ingerida menos a quantidade de proteína não digerida e não absorvida. O resíduo não digerido e absorvido é eliminado através das fezes.

A digestão dos nutrientes se inicia logo que os alimentos são consumidos.

Esse processo se dá por meios físicos (mastigação) e químicos (digestão enzimática). Cadeias mais complexas de nutrientes passam por processos de hidrólise enzimática, que será abordada no próximo tópico.

HIDRÓLISE ENZIMÁTICA


A digestão enzimática dos alimentos pelos animais se dá a partir da presença de enzimas na saliva (exemplo: amilase), no estômago (pepsina presente no suco gástrico) e intestino (peptidases presentes no suco entérico).

Essas enzimas exercem função de quebra (por meio de hidrólise) das cadeias mais complexas dos nutrientes. No caso da proteína, as enzimas agem na quebra das ligações peptídicas, formando peptídeos e aminoácidos, que são compostos mais absorvíveis.

Portanto, para aumentar a taxa de digestibilidade de nutrientes, os insumos podem passar por diversos processos de hidrólise, que podem ser químicos, enzimáticos e térmicos.

A vantagem do processo industrial de hidrólise de forma enzimática é a maior preservação da integridade dos aminoácidos, ou seja, com menor taxa de desnaturação.

Para comprovar esses resultados na prática, o estudo “Use of Ezymatic Hydrolysate Ingredients For Animal Nutrition”, que apresentamos na ILDEX Vietnam, comparou três diferentes fontes de proteína na avaliação da performance larval de lagostas na fase inicial de desenvolvimento. Os ingredientes utilizados foram:

  • Farinha de peixe intacta (IFM);
  • Farinha de peixe desnaturada quimicamente (DFM);
  • Farinha de peixe que passou por processo de hidrólise enzimática (HFM). Confira o gráfico abaixo:

Gamble, S. Et Al (2015)

Source: GAMBLE, S. et al (2015)

Em suma, o estudo observou que a taxa de sobrevivência, a taxa de ganho de peso dos animais, o peso final e a frequência de muda diária do lote avaliado foi maior a partir da utilização do ingrediente que foi submetido a hidrólise enzimática.

PROTEÍNA HIDROLISADA DE FRANGO


Dentre os insumos submetidos à hidrólise enzimática disponíveis no mercado, a utilização da proteína hidrolisada de frango vem apresentando bons resultados no balanceamento das dietas.

Ela é resultante da hidrólise enzimática de proteínas de carne, fígado e vísceras de frangos.

Como resultado, temos um ingrediente produzido com alta tecnologia devido a hidrólise dos nutrientes ser realizada em baixas temperaturas, o que mantém a integridade e qualidade de suas propriedades nutricionais.

Com isso, há proteínas hidrolisadas de frango no mercado que apresentam números impressionantes como:

  • Teores máximos de umidade em 8%;
  • Gorduras totais em 6%;
  • Matéria mineral em 6%;
  • Teores mínimos de proteína bruta em 75%;
  • Mínimo de 90% de digestibilidade em pepsina (in vitro).

Um estudo realizado pela BRF Ingredients em parceria com a Universidade Estadual do Oeste do Paraná, a partir do teste in vivo de tilápias do Nilo, com a inclusão de proteína hidrolisada de frango na ração, foi observado aumento do índice de palatabilidade quando comparado ao tratamento controle que consistiu na utilização de farelo de peixe em cerca de 10%.

Os parâmetros de avaliação do índice de palatabilidade foram:

  • Consumo de ração;
  • Taxa de rejeição do alimento;
  • Tempo médio da captura do primeiro péllete de ração pelas tilápias.

Em outro estudo com tilápias, também foi observado que no tratamento com inclusão de proteína hidrolisada de frango (2,5%) houve maiores taxas de sobrevivência das tilápias no estágio inicial e aumento no peso final dos peixes.

Dessa maneira, a maior palatabilidade das rações com proteína hidrolisada de frango garante, além das vantagens já citadas, melhoria nos índices zootécnicos dos peixes.

IMPACTO NA QUALIDADE DA ÁGUA


Como citado anteriormente, a má formulação de dietas na aquicultura intensiva também colabora para a poluição dos ambientes aquáticos.

A qualidade dos insumos também influencia na aquicultura intensiva. Além do fornecimento de dietas balanceadas e de qualidade, o aquicultor deve estar atento com relação a densidade populacional dos viveiros de criação e com a quantidade de alimento fornecido. Alimentos fornecidos em excesso, ou seja, acima da proporção adequada para certa quantidade de animais geram a poluição da água.

Referente a qualidade dos alimentos, a mesma está relacionada com o processamento da ração, a proporção de nutrientes e a qualidade dos ingredientes utilizados na formulação. Em relação ao processamento, o fornecimento de rações peletizadas ou extrusadas reduz a sua desintegração, dissolução e consequentemente seu desperdício em meio aquático.

A proporção de proteína e energia na formulação da dieta deve ser considerada. Alimentos altamente protéicos, não consumidos e excretados pelos peixes poderão causar poluição do meio por excesso de nitrogênio.

Outro fator importante é a qualidade dos nutrientes. A excreção de nitrogênio pelos animais será reduzida com a utilização de ingredientes que contém proteínas de alta digestibilidade e baixo teor de Fósforo.

CONCLUSÃO


Dentro do âmbito das pesquisas realizadas para o avanço da nutrição animal, diversos estudos têm sido realizados que demonstram os benefícios da utilização de alimentos submetidos à hidrólise enzimática no desempenho dos animais do setor produtivo. O processo de hidrólise enzimática feito em alimentos, como carne e vísceras de frango, melhora as taxas de digestibilidade e pode ser usado como uma boa alternativa em substituição à alimentos convencionais como a farinha de peixe.