Data: 26/05/2021

Para formular rações e escolher ingredientes para a nutrição aqua, é essencial considerar não só a quantidade de proteína necessária para uma dieta equilibrada, mas também a qualidade desse componente. Isso porque a composição desse nutriente pode afetar diretamente a digestibilidade na aquicultura.

A digestibilidade, por sua vez, gera impactos na nutrição, saúde, crescimento e desenvolvimento dos animais. Além disso, dentro da aquicultura, a baixa digestibilidade também pode interferir na qualidade da água, através de resíduos que se acumulam no ambiente de criação.

Para manter uma boa produtividade e reduzir os custos de produção, a melhor estratégia é escolher ingredientes que apresentem comprovações científicas de eficácia na nutrição e que aumentem a digestibilidade na aquicultura. 

Conhecer os conceitos e as novidades do mercado é a solução para quem deseja realizar substituições inteligentes e sustentáveis e otimizar a formulação de ração animal com maior rentabilidade.

A digestibilidade na aquicultura

A digestibilidade é um fator que determina a facilidade que um ingrediente tem de ser digerido pelo organismo animal. Ou seja, um elemento de alta digestibilidade será melhor aproveitado ao passar pelo sistema digestivo, tendo seus nutrientes e aminoácidos absorvidos e utilizados em benefício da saúde e da nutrição do animal.

Essa digestibilidade pode ser diferente de acordo não só com o tipo de alimento, mas também com a espécie de animal que está se alimentando. Sendo assim, a digestibilidade na aquicultura deve ser avaliada de acordo com o tipo de criação e espécie cultivada.

Os testes de coeficiente de digestibilidade irão definir como será o aproveitamento de determinado ingrediente pela espécie em questão. Conhecer esses valores é de suma importância para os formuladores, que poderão se basear nesses coeficientes para fazer a melhor escolha das matérias-primas de acordo com o custo-benefício de cada uma.

Importância da digestibilidade na nutrição aqua  

Diferente de outros tipos de criação, como suínos e pets, a digestibilidade na aquicultura tem mais um fator significativo além da nutrição: a qualidade da água do ambiente de produção dos animais. Quando esse ambiente está em desequilíbrio, o crescimento e o desenvolvimento das espécies é prejudicado, além de ocorrer o aumento da taxa de mortalidade e doenças.

Para preservar a produtividade, oferecer uma dieta rica em proteínas e com alta digestibilidade é fundamental. Isso porque, além de representar a matéria-prima mais cara da ração, o excesso de proteína na alimentação causa um aumento significativo de excreção de nitrogênio. Esse elemento, em combinação com a excreção de fósforo, é o principal responsável pela eutrofização do ambiente aquático

Com foco em desenvolver rações com características ideais para o consumo, nutrição e sustentabilidade do local de criação, empresas de pesquisa e desenvolvimento do setor têm testado alternativas mais funcionais, econômicas e equilibradas e completas de matéria-prima para formulação.

Apesar dos peixes não terem exigência direta de proteína, eles dependem de aminoácidos essenciais para que suas funções vitais funcionem plenamente. Por isso, mais do que apenas oferecer fontes proteicas, é necessário se atentar para a qualidade desses nutrientes e para a presença e digestibilidade dos aminoácidos e demais elementos.

Nesse cenário, o conceito de proteína ideal tem sido usado considerando a exigência de aminoácidos para a nutrição aqua. Sendo assim, a melhor decisão para os formuladores é escolher ingredientes que ofereçam todos os aminoácidos necessários com alta digestibilidade.

Fatores que afetam a digestibilidade

A digestibilidade na aquicultura pode ser afetada por diversos fatores diferentes. Dentre os principais, podemos destacar:

Tamanho e Idade dos animais

A idade dos animais pode interferir na digestibilidade devido ao tamanho deles em suas diferentes fases de criação e produção. 

O artigo Fatores que afetam os coeficientes de digestibilidade nos alimentos para peixes , da Revista Eletrônica Nutritime, mostra que, em espécies de peixes onívoros e herbívoros, a digestibilidade é influenciada pelo tamanho do peixe em decorrência do aumento relativo do tamanho do intestino do animal.

Essa característica faz com que a digestão seja mais longa e o tempo de assimilação e absorção dos nutrientes também aumente. Vale ressaltar que as avaliações não encontraram alterações de digestibilidade relacionadas ao peso dos animais, mas sim ao seu tamanho.

Temperatura da água

Espécies como os peixes são animais pecilotérmicos, ou seja, de sangue frio. Essa característica faz com que a temperatura da água também influencie no funcionamento digestivo desses animais.

Isso porque a variação de temperatura causa impactos em todo o organismo dos peixes, alterando o consumo de ração, as atividades enzimáticas e as taxas de digestão e absorção de nutrientes. 

Ainda de acordo com o artigo Fatores que afetam os coeficientes de digestibilidade nos alimentos para peixes , a elevação da temperatura dentro da margem ideal para os animais pode aumentar também o coeficiente de digestibilidade.

Processamento do alimento

O tipo de processamento das rações também pode afetar ou melhorar a digestibilidade de um alimento. Isso porque processos como moagem, peletização e extrusão podem alterar as características químicas e físicas dos ingredientes.

O artigo Fatores que afetam os coeficientes de digestibilidade nos alimentos para peixes revela que alimentos que passaram pelo processo de extrusão podem ter seus coeficientes de digestibilidade melhorados, principalmente em relação à energia bruta.

A palatabilidade

A palatabilidade também exerce grande influência na digestibilidade e na qualidade da água do meio de criação dos animais da aquicultura. A palatabilidade representa o quão atrativa é uma ração para os animais, fazendo com que eles queiram consumi-la por características como textura, sabor e aroma.

Quando os animais recebem alimentos com baixa palatabilidade, a tendência é que eles reduzam ou interrompam a alimentação, aumentando o acúmulo de resíduos na água e adquirindo deficiências nutricionais. 

Por isso, investir em ingredientes com alta digestibilidade e palatabilidade é a melhor forma de garantir que a nutrição dos animais estará equilibrada e que eles aproveitarão de maneira real os elementos benéficos ali adicionados.

A importância dos aminoácidos essenciais 

Os aminoácidos são responsáveis pela síntese proteica no organismo dos animais aquáticos. Desse modo, as proteínas sintetizadas realizarão funções como a catálise de reações biológicas e construção de tecidos musculares.

Quando uma proteína de alta qualidade (rica em aminoácidos com disponibilidade total na digestão) é inserida na alimentação aqua, a quantidade de ração necessária para suprir as necessidades nutricionais é menor. Isso faz com que os custos sejam reduzidos e o ambiente se preserve livre de acúmulo de resíduos e excreções. 

Dos 20 aminoácidos existentes e disponíveis, 10 são essenciais para o crescimento e desenvolvimento dos animais aquáticos. São eles: arginina, histidina, isoleucina, leucina, lisina, metionina, fenilalanina, treonina, triptofano e valina.

A ausência desses elementos pode causar problemas como anorexia, crescimento reduzido e deficiências anatômicas nos animais. Também é importante ressaltar que cada espécie apresenta necessidades diferentes de quantidade de cada aminoácido, assim como cada aminoácido também pode apresentar coeficientes de digestibilidade diversos.

Para a nutrição equilibrada de tilápias, por exemplo, o estudo Inovações sobre o uso de aminoácidos industriais em dietas para a tilápia-do-nilo , da Revista Brasileira de Zootecnia, revela que a metionina deve representar cerca de 55% do total de aminoácidos sulfurados na formulação. Enquanto a lisina deve apresentar teores de 5,5 a 6,5% do total de proteína. 

Os valores a serem considerados devem ser profundamente analisados e estudados pelos profissionais responsáveis pela formulação de uma ração de qualidade. Desse modo, é possível escolher ingredientes chaves para manter uma boa rentabilidade.

Como melhorar a digestibilidade na aquicultura através de ingredientes de qualidade

Um ingrediente que apresenta excelentes teores de digestibilidade e palatabilidade é a farinha de peixe. Ela não só é atrativa e de fácil digestão, mas também garante uma nutrição equilibrada e com bom potencial produtivo na aquicultura.

No entanto, a baixa disponibilidade desse ingrediente faz com que o custo seja significativamente elevado, representando cerca de 40 a 70% dos custos na aquicultura. Com estudos e testes desenvolvidos por empresas do setor agro, atualmente é possível encontrar opções substitutas que preservam as qualidades nutricionais e que podem ser mais viáveis economicamente. 

Ingredientes de origem animal, como os coprodutos do abate de frango, são fontes ricas de proteínas e aminoácidos altamente digeríveis, palatáveis e sustentáveis. Pela alta disponibilidade, esse tipo de matéria-prima oferece um excelente custo-benefício para a nutrição aqua. 

Dentre os produtos disponíveis no mercado que apresentam essa alta eficiência, podemos destacar a Farinha de vísceras de aves, Farinha de pena e a Proteína Hidrolisada de Frango.

Farinha de vísceras de aves

A Farinha de Vísceras de Aves disponibiliza todos os aminoácidos necessários para o bom desenvolvimento dos animais aquáticos, podendo substituir a farinha de peixe de maneira parcial ou total sem prejudicar a performance dos animais. No caso de peixes carnívoros, a Farinha do tipo Low Ash com baixo teor de cinzas é uma alternativa ainda mais eficiente.

Além de altamente palatável, a farinha do tipo Low Ash apresenta teores ricos de proteína e energia, bem similares a farinha de peixe. O estudo Evaluation of poultry by-product meal in commercial diets for hybrid striped bass analisou a digestibilidade dos nutrientes e verificou que a substituição de 35% da farinha de peixe pela farinha de subprodutos de aves promoveu uma performance equivalente a de peixes alimentados exclusivamente com a farinha de peixe.

Farinha de pena

A Farinha de Pena também demonstra uma eficiência equivalente à farinha de peixe em estudos, sendo uma alternativa mais econômica para os produtores que desejam melhorar a rentabilidade da aquicultura. 

O estudo Feather meal for fish feed , da International Aquafeed Magazine, analisou a alimentação de tilápias e camarões. O grupo que recebeu uma alimentação baseada em farinha de pena não apresentou nenhum efeito negativo em relação ao grupo que se alimentou com base em farinha de peixe.

No entanto, para garantir a performance da farinha de pena, é importante ressaltar que os formuladores precisam priorizar a qualidade da matéria-prima a ser adicionada na ração

Optar por matérias-primas frescas e com uma rastreabilidade conhecida é a melhor forma de garantir a qualidade da formulação final e os benefícios da substituição por esse ingrediente de menor custo.

Proteína Hidrolisada de Frango (PHF)

A hidrólise enzimática tem ganhado destaque no mercado devido a sua eficiência nas reações e melhora de desempenho nutricional e digestibilidade. Dentre as opções disponíveis, a Proteína Hidrolisada de Frango tem sido cada vez mais explorada e estudada para beneficiamento das rações animais.

É possível encontrar no mercado PHF com índices excelentes para a nutrição aqua, com teores mínimos de proteína bruta de 75% e digestibilidade mínima em pepsina de 90%. 

Um estudo realizado pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná revelou que a inclusão de PHF na dieta de tilápias do Nilo aumentou a palatabilidade em 10% quando comparado ao grupo de controle que ingeriu farelo de peixe. 

Além da digestibilidade e palatabilidade, a PHF também atua de maneira positiva na preservação da qualidade da água. Isso porque as proteínas de fácil digestão evitam a excreção excessiva de nitrogênio e fósforo no ambiente de criação.

Conclusão

Garantir a digestibilidade na aquicultura é garantir que os animais serão nutridos de maneira completa e satisfatória para cumprir com suas fases de desenvolvimento com alta produtividade e qualidade. 

Escolher ingredientes ideais e ricos nos elementos necessários vai muito além de analisar características como o teor de proteína, mas também envolve analisar a qualidade dessa proteína e como ela beneficiará na prática a produção.

Alimentos com alto teor proteico nem sempre irão cumprir com seus objetivos na dieta dos animais aquáticos, pois podem ser desperdiçados — dependendo do gasto de energia daquele animal. Por isso, priorizar ingredientes cientificamente comprovados e feitos com matéria-prima fresca é a melhor solução para quem deseja reduzir custos, melhorar a performance e garantir a rentabilidade da produção.