Data: 24/06/2019

Era apenas uma questão de tempo para que a tecnologia hoje disponível passasse a integrar de forma mais robusta a rotina das empresas.

Com a grande capacidade de processamento de dados das novas ferramentas tecnológicas e a possibilidade de integrar maquinários e controlar processos por sistemas online, a Indústria desperta para uma nova era.

O conceito de Indústria 4.0 ainda é relativamente recente, porém, sua implementação já caminha a passos largos em alguns setores.

Este novo momento afetará todos os integrantes da cadeia de valor. Desde o produtor de insumos e matérias-primas, até o consumidor final, que terá uma função muito mais ativa em suas novas experiências de consumo.

Neste blog post, aprenderemos um pouco mais sobre a Indústria 4.0 e entenderemos como esta nova filosofia poderá afetar os players do setor alimentício.

Uma Introdução à Indústria 4.0

Conceito

O conceito de Indústria 4.0 surgiu de um projeto do governo alemão com o objetivo de traçar estratégias para integrar a tecnologia ao cotidiano das empresas.

Essa definição envolve as principais inovações tecnológicas nos campos da automação, controle e tecnologia da informação, de forma que todas essas inovações sejam aplicadas aos processos de manufatura.

Especialistas já citam esta nova fase como a 4ª revolução industrial, onde máquinas, sistemas e ativos estarão conectados em um só sistema. Este sistema formará redes inteligentes ao longo de toda a cadeia de valor, resultando em uma produção controlada de forma autônoma.

Vale ressaltar que o potencial econômico deste modelo é enorme. Um estudo de projeção realizado pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) mostrou que há possibilidade de uma economia de R$ 73 bilhões no Brasil com a aplicação dos conceitos da Indústria 4.0.

Além disso, dados da McKinsey apontam que até 2025 haverá potencial para uma redução de custos de manutenção entre 10% e 40%, redução no consumo de energia entre 10% e 20% e aumento da eficiência de trabalho entre 10% e 25%.

Princípios

Alguns princípios fundamentam as bases da Indústria 4.0:

  • Capacidade de operação em tempo real: eficiente análise de dados para rápidas tomadas de decisão.
  • Virtualização: criação de uma réplica virtual da fábrica, de forma que sejam possíveis o rastreamento e o monitoramento dos processos de forma remota.
  • Descentralização: programação do sistema cyber-físico para tomada de decisões de produção em tempo real.
  • Orientação a serviços: arquitetar softwares orientados a serviços.
  • Modularidade: permitir a produção de acordo com a demanda, assim como o acoplamento e o desacoplamento de módulos de produção de forma automática.

Pilares

Os pilares que estruturam a Indústria 4.0 são:

  • Internet das coisas: uma conexão entre a rede de objetos físicos, os ambientes da fábrica, os veículos e os equipamentos por meio de dispositivos eletrônicos embarcados que tem por objetivo a coleta e a troca de dados entre os setores da empresa.
  • Big data Analytics: uma estrutura complexa e robusta para a captura de dados, assim como para o gerenciamento das informações extraídas dos mesmos.
  • Segurança: uma estrutura tão complexa e interconectada precisa de um sistema de segurança à altura para evitar falhas que possam prejudicar o andamento da rotina de uma fábrica.

Impactos

A implantação de um modelo como este causará diversos impactos a curto, médio e longo prazo na cadeia produtiva, dentre eles:

• Criação de novos modelos de negócio, levando-se em conta a criação de produtos cada vez mais customizados às necessidades dos consumidores.
• Expansão da Pesquisa e desenvolvimento em T.I.: desenvolvimento da tecnologia para tornar viável a adaptação deste modelo aos mais variados tipos de empresas.
• Mudança no perfil profissional: com a eliminação de trabalhos manuais repetitivos devido à automatização completa dos processos, haverá a necessidade de se buscar profissionais tecnicamente capacitados e com conhecimento multidisciplinar.

A Indústria de Alimentos 4.0

Entendido o conceito de Indústria 4.0 nos perguntamos, como o mesmo se enquadra no setor alimentício?

Primeiramente, está prevista uma mudança no que diz respeito a um maior controle sobre a produção de alimentos e sobre os custos de operação de uma fábrica, além de se evitar desperdícios, contribuindo para a demanda ambiental de se produzir a menor quantidade possível de resíduos.

Este modelo também impactará a qualidade dos produtos, assim como a eficiência e o rendimento, que aumentarão em decorrência da redução do tempo de inatividade.

Além disso, um maior controle de produção significa estar preparado para mudanças bruscas, como quebras de safras, alteração de requisitos de segurança alimentar e mudanças no comportamento do consumidor.

O sistema de dados permitirá um maior compartilhamento de informações ao longo de toda a cadeia produtiva, sendo possível o acesso de informações remotamente por parte de todos os stakeholders em tempo real.

Um grande problema atual da indústria de alimentos é o tempo e o dinheiro gastos com recall de produtos. Por ser um sistema que integra toda a informação da fábrica e faz com que os dados estejam disponíveis de forma facilitada, na indústria de alimentos 4.0 haverá uma economia quanto a esta questão.

Será possível detectar problemas em um produto antes mesmo que ele seja despachado da fábrica, evitando todos os transtornos que podem causar um lote fora da especificação. Tais falhas também se tornarão menos comuns devido a toda a automatização do sistema.

Alguns exemplos bem-sucedidos

Um case de sucesso da implementação deste modelo é a cervejaria americana New Belgium, que implantou um sistema integrado de manufatura a fim de prever quando os equipamentos precisariam de manutenção. Esta ação reduziu 50% do tempo morto da empresa que foi utilizado para um aumento da produção sem a necessidade de se aumentar os custos.

Até mesmo o setor de P&D economizará tempo nesta nova revolução. Algumas empresas já estão adotando impressoras 3D para criar protótipos de produtos, como doces, um processo que leva dias ao invés de semanas. A empresa Cadbury já usou este sistema com sucesso para lançar uma barra de chocolate ao leite aerado em 2012.

Por fim, os consumidores também passarão a ter uma experiência completamente diferente do que estão habituados.

No futuro, é o próprio consumidor quem decidirá o que será produzido. Isto será possível devido à possibilidade de personalização dos produtos de uma empresa. Na Indústria de Alimentos 4.0, espera-se que os custos da fabricação personalizada sejam os mesmos da fabricação em massa.

O que será necessário para a indústria de alimentos se adaptar a esta nova realidade?

Infelizmente, ainda há um longo caminho a ser percorrer. As empresas do ramo alimentício precisam, primeiramente, de uma mudança cultural em seus negócios.

Muitas empresas de alimentos, principalmente aquelas de pequeno porte – salvo algumas exceções – não possuem o DNA criativo em seu cerne. Isto precisa mudar. A indústria de alimentos 4.0 precisa estar aberta a mudanças constantes tanto de produtos e equipamentos quanto de processos e formas de comunicação.

Também será necessário um investimento em softwares e processos apropriados que permitam a interação entre todos os setores da fábrica e todas as etapas da cadeia produtiva.

A indústria de alimentos também precisará de profissionais mais capacitados, que estejam preparados para lidar com toda a tecnologia deste novo sistema de produção, assim como possuir uma visão sistêmica da empresa. Essa capacitação também poderá se dar por meio de treinamentos da equipe que já faz parte da empresa.

A empresa de alimentos que deseja fazer a transição para a Indústria 4.0 precisará, de forma geral, seguir estes passos:

  • Fazer um mapeamento para verificar os pontos que trazem oportunidade de melhoria.
  • Indústria controlada: neste passo, a empresa deve identificar os pontos de controle, as variáveis de processo e os tipos de tecnologia que serão usadas para o tratamento de dados.
  • Cortar etapas desnecessárias do processo de produção e encontrar soluções para a diminuição do uso de energia.
  • Mapear as competências necessárias da equipe que irá atuar neste novo modelo.
  • Desenvolver um projeto para que os equipamentos sejam interligados uns com os outros e com o sistema de dados, criando-se uma rede de informações centralizada.

Conclusão

A 4º revolução industrial já é uma realidade. Como um dos principais setores da Indústria, o ramo alimentício precisa estar preparado para esta transição.

Investir em tecnologia, em automação e em profissionais com competência específicas é um caminho sem volta para se manter cada vez mais atuante no mercado.

Portanto, agora é hora de encarar este novo marco como uma oportunidade de ter em mãos um tipo de Indústria diferente, cada vez mais produtiva, eficiente e sustentável.