Cuidados na formulação de alimentos para crianças

Qualquer formulador de P&D sabe que desenvolver produtos alimentícios não é uma tarefa simples. O desafio é dobrado quando o público-alvo são crianças e recém-nascidos.

Por ainda possuírem um organismo em formação e serem mais susceptíveis a alergias e contaminações, as formulações infantis passam por um rigoroso controle de qualidade, tanto por parte das empresas quanto por parte dos órgãos regulamentadores.

Além disso, determinados nutrientes devem ser reforçados em formulações para crianças, uma vez que as mesmas possuem necessidades especiais e necessitam fortalecer seus metabolismos para que se propicie um desenvolvimento saudável.

O aumento da obesidade infantil e do número de crianças com algum tipo de alergia alimentar cada vez mais preocupam pais e cuidadores. Dessa forma, os mesmos estão cada vez mais levando em consideração estes fatores para a escolha dos alimentos que irão compor as refeições de suas crianças.

A preocupação com a introdução de alimentos frescos e nutritivos em detrimento aos snacks ricos em gordura saturada e açúcar estão ditando o mercado moderno da alimentação infantil e abrindo novas possibilidades que vêm chamando a atenção dos setores de P&D ao redor do mundo.

Neste post conheceremos as tendências de mercado, assim como novas soluções para o desenvolvimento de alimentos voltados ao público infantil, assim como os cuidados especiais a se tomar para o desenvolvimento deste tipo de produto.

Nutrientes que devem ser reforçados em formulações infantis

A presença de macronutrientes e alguns micronutrientes nos alimentos infantis é fundamental para o desenvolvimento cerebral e metabólico das crianças.

Macronutrientes

Os macronutrientes são substâncias necessárias em grande quantidade para o funcionamento normal do organismo humano. Incluem carboidratos, gorduras e proteínas. Os carboidratos funcionam como uma fonte primária de energia por serem facilmente quebrados e metabolizados pelo corpo.

Pães, cereais, arroz e batatas são fontes de carboidratos. Para as crianças, o consumo de amidos e fibras é preferível em detrimento ao açúcar, para se evitar problemas como obesidade e diabetes.

Já as gorduras são responsáveis pelo carreamento de vitaminas lipossolúveis, fazem parte das membranas celulares e possuem ácidos graxos essenciais. Aqueles que nosso corpo não produz e precisam ser consumidos moderadamente e preferencialmente de fontes saudáveis através da dieta.

Porém, por serem uma fonte secundária de energia, as gorduras são armazenadas no tecido adiposo quando consumidas em excesso, o que leva ao ganho de peso e até mesmo ao desenvolvimento de problemas cardiovasculares e obesidade.

Com a obesidade infantil crescendo, é preferível a utilização de óleos, ricos em ácidos graxos insaturados, e gorduras produzidas por interesterificação. Neste processo, as gorduras são estruturadas de forma a apresentarem baixo teor de ácidos graxos saturados e 0% de ácidos graxos trans. A interesterificação garante palatabilidade, textura e funcionalidade às gorduras.

Peixes e óleos vegetais, como soja, milho e canola, são fontes ricas em ácidos graxos essenciais para o desenvolvimento cerebral das crianças, como ácido linoleico, linolênico, EPA e DHA.

As proteínas também são essenciais para diversas funções vitais. As mesmas apresentam em sua composição aminoácidos essenciais, fazem parte da estrutura das células, desempenham funções metabólicas e são carreadoras de oxigênio. Carne bovina e suína, aves, peixes e laticínios são excelentes fontes de proteína.

As fibras, carboidratos de cadeia longa não digeríveis pelo organismo, desempenham a importante função de regular o intestino. Além disso, estão relacionadas a efeitos benéficos como a redução do risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares e câncer.

Micronutrientes

Ao contrário dos macronutrientes, o organismo requer uma quantidade reduzida de micronutrientes. Estes, porém, também desempenham funções fundamentais. Os minerais e as vitaminas encontram-se neste grupo.

O cálcio, presente em diversos produtos lácteos, ajuda no fortalecimento de ossos e dentes. Já o ferro, majoritariamente presente em carnes, garante um eficiente transporte de oxigênio pelo sangue.

O ácido fólico, vitamina do complexo B, presente em cereais, espinafre e lentilhas, ajuda no desenvolvimento celular em crianças e sua falta pode causar anemia.

Porém, a proporção de macro e micronutrientes precisa acompanhar o metabolismo da faixa etária à qual o produto é destinado. Bebês abaixo de 6 meses devem consumir apenas leite ou fórmulas infantis que substituem o leite materno. Após este período, a transição a outros grupos alimentares deve ser feita de forma gradual.

Crianças abaixo de 13 anos possuem dificuldade em digerir grãos integrais. Portanto, as formulações devem apresentar teores limitados deste tipo de grãos.

Alergias alimentares em crianças

A Associação Brasileira de Alergia e Imunologia alerta que 30% da população mundial possui algum tipo de alergia, sendo que 20% deste total corresponde a crianças.

Já o Center for Disease Control and Prevention dos Estados Unidos afirma que entre 1997-1999 e 2009-2011, a alergia alimentar em crianças cresceu 50% e o número de crianças alérgicas a nozes e amendoim triplicou entre 1997 e 2008.

O aumento preocupante da alergia alimentar em crianças pode ter uma explicação simples. Uma das hipóteses estudadas é que este acréscimo se deu em razão de uma maior higienização e menor exposição a micróbios ao longo dos anos. Isto faz com que ocorra um redirecionamento da resposta imune para fatores que antes não causariam tal reação.

As alergias alimentares podem levar a reações anafiláticas que causam a morte se não interrompidas imediatamente. Neste contexto, as crianças são as mais susceptíveis por ainda não possuírem um sistema imune completamente desenvolvido.

Dessa forma, a informação nas embalagens alertando sobre a presença de ingredientes alergênicos é de extrema importância. Para isso, é necessário conhecer a fundo a lista dos ingredientes que fazem parte da composição de um produto e comunicar se algum deles é alergênico de forma clara nos rótulos.

Os riscos que podem estar contidos em baby food

Em 2017, o projeto clean label analisou 533 produtos das mais diversas categorias de baby food disponíveis no mercado e encontrou dados alarmantes.

Baby foods que continham o certificado orgânico apresentaram duas vezes mais arsênico quando comparadas às fórmulas tradicionais. Além disso, 60% dos produtos que se diziam livres de Bisfenol A, um composto cancerígeno, testaram positivo para o mesmo.

As baby foods que obtiveram as piores performances nos testes apresentaram 70% mais acrilamida, outro composto carcinogênico que também causa danos cerebrais e ao sistema reprodutivo.

A explicação dada pelo projeto para a detecção da presença deste tipo de composto foi que a preocupação das agências regulamentadoras quanto à baby food está mais voltada aos riscos microbiológicos, dando pouca atenção aos contaminantes industriais ou ambientais, como os aqui citados.

Estes contaminantes estão presentes no solo, devido à exposição a pesticidas e podem ser absorvidos pelas plantas. Alguns deles, como a acrilamida, podem ser resultantes do processo de produção.

Para garantir produtos infantis livres deste tipo de contaminante, uma boa escolha dos fornecedores de insumos e ingredientes é fundamental para a obtenção de produtos 100% clean label e que sejam seguros à saúde de seus pequenos consumidores.

As tendências para o mercado de alimentos infantis

Em 2017, as vendas de alimentos orgânicos atingiram aproximadamente $50 bilhões, em que uma grande parte correspondia a baby food.

A busca por produtos livres de pesticidas, GMOs e que são percebidos como mais nutritivos por alguns pais e cuidadores é uma das principais tendências para o mercado de alimentos infantis.

Outra tendência é o surgimento de embalagens inovadoras para este tipo de produto, como pouches, que têm ganhado as prateleiras devido à praticidade de uso e por possuírem uma maior barreira que mantém os alimentos frescos por mais tempo.

Há também uma maior diversidade no portfólio de produtos voltados a crianças, como a superfood baby probiotics, uma categoria que tem o objetivo de fortalecer o sistema imunológico e é livre de leite, glúten e açúcar.

Inovações no processo de produção de baby foods também estão em alta, como a utilização do tratamento por alta pressão a fim de se evitar o uso de altas temperaturas. Dessa forma, preserva-se mais nutrientes e características sensoriais.

A escolha do tipo de óleo ou gordura que irá compor os snacks das crianças também tem sido feita com mais cuidado. Neste caso, a interesterificação do óleo de soja é uma alternativa para a estruturação dos produtos sem a necessidade da presença de gordura trans.

Conclusão

As tendências apontam que o futuro dos produtos infantis está ligado ao desenvolvimento de formulações orgânicas, frescas, clean label e sem a adição de açúcares e gorduras saturadas.

A formulação de produtos para bebês e crianças requer inúmeros cuidados para garantir a presença de nutrientes necessários para o desenvolvimento saudável de seu público-alvo.

Além disso, é importante assegurar o uso de ingredientes livres de contaminantes ambientais e industriais. Para isso, a obtenção de insumos seguros e de qualidade é essencial.