Data: 22/07/2019

Quem trabalha no ramo da suinocultura sabe que a fase do desmame é uma das mais delicadas durante o ciclo de vida dos suínos.

O desmame é um período de transição, onde os leitões são separados da matriz, tendo suas dietas, antes baseadas apenas no leite materno, substituídas por rações sólidas.

Portanto, é até compreensível que devido a todas as novidades às quais os animais são expostos, ocorra um certo grau de estresse.

Porém, existem formas de atenuar esta mudança e fazer com que ela seja a mais tranquila possível.

Investir corretamente na transição da alimentação líquida para a sólida é uma das formas, assim como se atentar para os aspectos nutricionais, de palatabilidade e digestibilidade da nova dieta dos leitões.

Neste blog post, conheceremos mais sobre creep feeding e sobre os aspectos nutricionais que precisam ser atendidos para que o desmame dos suínos ocorra de forma bem-sucedida.

Creep feeding: o primeiro passo para a transição

O creep feeding é uma prática muito comum na criação de suínos jovens. A mesma tem o objetivo de preparar o sistema gástrico dos animais para a fase do desmame.

Neste sistema, a alimentação sólida começa a ser lentamente inserida na dieta dos leitões de forma que as enzimas do intestino e do sistema digestivo se desenvolvam. Estas enzimas irão permitir a digestão de nutrientes provenientes de outras fontes alimentares além do leite.

Para que os leitões se beneficiem ao máximo do creep feeding, a idade dos mesmos tem um papel fundamental.

É preciso que o creep feeding se inicie de tal forma que, até chegar o período de desmame, o leitão já tenha consumido em torno de 500 g de alimentos sólidos. Para garantir isto, o ideal é que se inicie o desmame entre 25 e 35 dias de idade. Antes desse período, os leitões podem desenvolver reações de hipersensibilidade.

Além disso, leitões que são desmamados muito jovens sofrem ainda mais com o estresse ocasionado pela separação dos mesmos com a porca. Portanto, o período de 25 a 35 dias de vida é ideal para que esta transição seja realizada de forma mais orgânica.

Definida a idade, é preciso conhecer que tipo de alimentação deve ser utilizada no creep feeding, de forma que o sistema digestivo dos leitões não sofra reações adversas.

Nesta etapa, o produtor precisa ser estratégico e eleger alimentos que são compatíveis com um organismo ainda acostumado a digerir leite.

Para isso, é necessário que o produtor eleja rações provenientes de fornecedores conhecidos, de boa reputação e que produzam com qualidade.

O ideal são rações que incluam proteínas do leite e lactose e altos níveis de cereais cozidos, evitando-se rações que contenham componentes antinutricionais.

Por fim, a alimentação sólida deve ser administrada em pequenas porções (em torno de 50 g), preferivelmente entre mamadas, para estimular os leitões a consumirem a ração.

Fatores a serem considerados na dieta dos leitões após o desmame

Quem trabalha com alimentação suína sabe que é inegável que a palatabilidade do leite materno é imbatível para os animais.

Como foi dito no tópico anterior, o creep feeding é importante para que os leitões se acostumem com a alimentação sólida. Portanto, desde este estágio inicial, até o pós-desmame é importante que as rações sejam agradáveis ao paladar dos leitões, para que esta mudança não tenha um impacto negativo no desenvolvimento dos animais.

É nesta etapa que o trabalho dos formuladores de rações para suínos jovens se torna ainda mais fundamental.

O sabor da ração será definido pela natureza dos ingredientes que a compõem. O balanço correto fará com que a ingestão de alimentos seja otimizada, contribuindo para em um rápido crescimento e performance ótima dos suínos.

1. Cereais: uma escolha segura

Optar por ingredientes baseados em cereais é sempre uma boa escolha.

Alguns estudos já concluíram que a palatabilidade dos cereais é bem aceita pelos leitões, principalmente se os cereais forem processados. O cozimento aumenta a palatabilidade e faz com que os suínos consumam uma maior quantidade de ração.

2. Proteínas: palatáveis e altamente digeríveis

Um fator para se manter em mente ao se eleger fontes proteicas que irão compor uma ração suína, é a necessidade de se manter os níveis de fatores antinutricionais (taninos, glucosinolatos, lectina) baixos, uma vez que a palatabilidade é consideravelmente reduzida.

Alguns processamentos como tostagem e extrusão são capazes de reduzir este tipo de substância de forma considerável. Porém, também é preciso estar atento para que o tratamento não seja excessivo, o que afetaria negativamente a digestibilidade e a palatabilidade dos nutrientes.

Proteínas do leite e outras proteínas de origem animal são ideais para fazer parte das rações para leitões.

Além disso, ingredientes baseados em proteínas de origem animal  que são produzidos através processo de hidrólise enzimática são ricos em peptídeos bioativos. Estes peptídeos irão cumprir funções biológicas no organismo dos suínos para além da função básica de nutrir.

Aplicar um tratamento térmico brando nestes ingredientes também é importante para não afetar negativamente as proteínas. Pelo contrário, os aminoácidos ali presentes possuem alta digestibilidade, garantindo que os mesmos sejam absorvidos pelo organismo dos suínos e utilizados para as funções vitais.

Também é essencial que estes ingredientes sejam provenientes de matéria-prima fresca, para garantir uma alta palatabilidade, isenção de compostos alergênicos contribuindo para uma ingestão satisfatória de ração e, portanto, um rápido desenvolvimento dos suínos.

3. Composição nutricional: balanço é a palavra de ordem

O balanço correto de nutrientes também é essencial na dieta dos leitões. As rações devem conter as quantidades adequadas de aminoácidos e minerais.

Uma quantidade elevada de fosfatos e sulfatos na ração, por exemplo, reduzem drasticamente a palatabilidade da mesma e podem interferir no consumo por parte dos suínos.

Já em relação aos aminoácidos, o teor correto de triptofano na dieta pode promover um aumento no consumo, como já foi evidenciado por diversos experimentos.

Assim como alguns minerais em excesso, quantidades elevadas de ácidos orgânicos também são capazes de diminuir a palatabilidade das rações.

Estes ácidos são geralmente utilizados como antibacterianos e para diminuir o pH do estômago dos suínos. Porém, os mesmos devem ser aplicados moderadamente, de forma a não afetar as características sensoriais da ração, para que não haja rejeição por parte dos leitões.

4. Outros fatores relevantes

Pesquisas apontam que logo após o desmame, os suínos devem ingerir regularmente uma alta quantidade de alimento. A baixa ingestão limita o crescimento potencial, além de aumentar os requisitos de manejo e intensificar a mortalidade.

Como regra geral, para cada 100 g de ração extra consumida por dia durante a primeira semana pós-desmame, o peso corporal dos suínos aumenta em pelo menos 2 kg ao final da quarta semana pós-desmame.

Além disso, também é importante criar um ambiente higiênico e organizado para que os leitões recém-desmamados possam ter uma adaptação mais tranquila a esta nova etapa. Esta regra básica terá um impacto muito positivo no desenvolvimento futuro dos animais.

Conclusão

Formular rações voltadas aos jovens leitões requer um conhecimento aprofundado do período de desmame dos animais e de como a alimentação deve ser administrada nessa fase da vida, tanto em termos de nutrientes específicos quanto em termos de palatabilidade e digestibilidade dos mesmos.

A transição do leite para a alimentação sólida precisa ser o menos estressante possível para garantir um desenvolvimento ótimo dos suínos. Aqui foram apresentados os aspectos alimentícios que podem garantir uma mudança tranquila e com o menor nível de estresse possível para os animais.