Data: 10/06/2019

Dentro do universo industrial, seja qual for o segmento de mercado, o desperdício de matéria-prima é sinal de perda financeira. Por isso, empresas desenvolvem rigorosos padrões de controle de qualidade e de análise da cadeia de produção para detectar em quais processos há desperdícios e como fazer para evitá-los.

O objetivo de todo gestor da cadeia produtiva é analisar as formas mais eficientes e estratégicas para reduzir os desperdícios a fim de otimizar a equação entre produção e uso de matéria prima.

Durante muito tempo, o pensamento sobre desperdício de insumos e alimentos era algo que fazia parte do universo da indústria de alimentos. Contudo, melhores práticas na gestão de estoque e ingredientes se mostram como uma saída para potencializar lucros em até 10%.

De acordo com a Food Waste Reduction Alliance, as indústrias de alimentos norte-americanas desperdiçam, anualmente, cerca de 1,1 milhão de toneladas de alimentos e gastam cerca de 59 milhões de dólares na gestão de seus desperdícios.

Veja abaixo alguns exemplos de boas práticas que podem ser aplicadas na indústria de alimentos para reduzir ao máximo o desperdício de insumos na cadeia de produção.

Aplicação de um controle de estoque e análise da quantidade de insumos


Boa parte dos ingredientes utilizados nas formulações não possuem validade prolongada, o que significa que é necessária ainda mais atenção para evitar desperdícios, perda de material e manter os altos níveis de controle de food safety.

O tempo se torna fator importante na gestão dos insumos. Portanto, para evitar grandes perdas, não há outra alternativa que não seja a aplicação de um controle intenso do estoque e análise aprofundada sobre as quantidades de insumos adquiridos.

Tudo começa com o desenvolvimento de processos de controle e análise de estoque. A atividade produtiva demanda esse procedimento, principalmente por se tratar de matérias primas vulneráveis.

Na indústria alimentícia, as empresas usam uma série de métodos de controle que são aplicados periodicamente para aferir quantidades e estado de conservação dos insumos. Dentre as práticas mais eficientes estão:

1. Controle de quantidades

Uma empresa que tem em mãos números atualizados de seu estoque sofre menos com perdas e desperdícios. O controle precisa ser aplicado tanto sobre os insumos quanto sobre os produtos prontos para venda.

Este processo pode ser otimizado com o uso de sistemas inteligentes de controle. Essas ferramentas tornam essa atividade mais dinâmica e ágil, além de realizar a compilação dos dados de estoque para análise dos gestores.

A realização da checagem deve ter periodicidade definida e respeitada pelas equipes de supply chain, que ficam responsáveis por essa demanda.

2. Análise do ambiente de estoque

Pode parecer algo simplório, contudo, se trata de aspecto imprescindível em qualquer segmento, principalmente no ramo de alimentos.

A qualidade do ambiente de estoque de insumos tem implicação direta na sua conservação e nas perdas. Caso o ambiente seja inadequado, o estoque pode sofrer com constantes perdas.

Existem diversos fatores que são avaliados para saber qual é a condição do ambiente de estoque. São levados em consideração a ventilação, iluminação, temperatura, umidade, deslocamento de pessoas, riscos de contaminação e muitos outros aspectos.

Apesar de parecer algo rigoroso demais, todo cuidado é pouco, principalmente para garantir a segurança alimentar dos produtos fabricados.

3. Compras exatas

Conforme a empresa domina seus processos e tem controle sobre sua produção e escoamento, a gestão do estoque torna-se mais simples e com menos perdas, afinal, a compra de insumos fica mais certeira, feita sobre uma quantidade ideal para alimentar toda a cadeia de produção sem que haja desperdício e nem falta de material.

Para obter esse “número ideal para as compras” é necessária muita análise do estoque, da linha de produção e das vendas.  Como as empresas funcionam em cadeia, se faz necessária uma análise holística de todas as operações para então definir as quantidades de insumos a serem adquiridas.

Obtenção de insumos de qualidade como forma de redução de perdas

Quando uma empresa adquire os insumos para a produção de suas mercadorias, existe todo um processo de escolha de fornecedores, sendo que, na maioria dos casos, os compradores procuram o melhor custo benefício.

O equilíbrio entre qualidade e preço é o objetivo de todo o setor de compras ao fazer os pedidos de insumos.

Quando o produto não é de qualidade, a empresa se arrisca a perder parte de seu estoque, uma vez que essa baixa qualidade pode comprometer a vida útil do insumo e até mesmo afetar o produto final.

As empresas precisam se atentar à procedência dos insumos, principalmente para garantir a segurança alimentar, que é uma preocupação diária e constante dentro do universo das indústrias de alimentos.

Existem algumas certificações internacionais que são capazes de atestar às indústrias que os insumos ofertados por um determinado fornecedor possuem a qualidade esperada. São eles:

PAACO – PROFESSIONAL ANIMAL AUDITOR CERTIFICATION ORGANIZATION

A PAACO é uma organização internacional que tem como principal trabalho a análise e certificação de procedência dos insumos de origem animal.

Através de um método de auditoria rigorosa, a entidade faz um trabalho interessante na busca pela melhoria da qualidade dos produtos e na criação dos animais, um fator de extrema importância neste segmento de mercado.

GAP – Good Agricultural Practice

O Globalgap é o programa de certificação de procedência mais utilizado na agricultura da Europa.

O programa é aplicado mundialmente, contudo, se originou na Europa, onde fez uma verdadeira mudança no mercado ao exigir mais qualidade dos insumos, respeito ao meio ambiente, sustentabilidade das lavouras e segurança alimentar dos produtos cultivados.

HACCP

O HACCP é um sistema de avaliação de segurança alimentar aplicado nas indústrias alimentícias.

Ele mapeia os riscos de contaminação dos insumos e produtos em toda a cadeia de produção e analisa os meios viáveis para reduzir as chances de problemas. Sua utilização nas indústrias brasileiras já é bastante conhecida.

Apesar de parecerem apenas mais um detalhe no meio de tanta informação, as certificações são pontos que precisam ser levados a sério, afinal, produtores que oferecem insumos de qualidade devem ser mantidos como bons parceiros de negócio, uma vez que eles contribuem de maneira fundamental para a qualidade do produto confeccionado pela empresa.

Manter uma boa relação com fornecedores

A boa relação entre fornecedores e as indústrias vai além da compra de bons insumos.

Quando a empresa estabelece uma boa relação com seus parceiros comerciais, há a possibilidade de pensar na customização, ou seja, no desenvolvimento de matéria prima que seja altamente adequada à necessidade da indústria.

Vamos a um exemplo: imagine que uma empresa que produz molho e extrato de tomate estabelece uma boa relação com um fornecedor de tomates. Conforme essa relação se fortalece, a indústria percebe que poderia criar um produto ainda melhor caso a variedade do tomate fosse outra, mudando para o tomate italiano, por exemplo.

Ao manter uma boa relação com um fornecedor, é possível criar parcerias para fomentar o plantio do tomate da espécie adequada, efetuando uma pré-compra ou estabelecendo um contrato de aquisição prévia do plantio, dando segurança para o fornecedor atender a demanda da empresa com sucesso.

Esse é apenas um exemplo de como a customização pode otimizar os produtos, reduzir as perdas e fortalecer as relações de mercado.

Não pular etapas nos testes de desenvolvimento de produtos

Testes de desenvolvimento de produtos são custosos e trabalhosos, porém, extremamente importantes para garantir a qualidade dos produtos, sua viabilidade de produção e a segurança alimentar.

Existem diversos testes que são aplicados na indústria de alimentos, sendo que todos eles pretendem analisar os aspectos envolvidos na concepção de um novo produto e na forma como ele é produzido.

Colocar um produto em teste de produção é um procedimento necessário para detectar falhas no processo e/ou problemas com os insumos utilizados.

Para evitar o desperdício, a empresa precisa evitar que sejam puladas as etapas dos testes, afinal, cada um deles analisa de forma distinta os impactos na cadeia de produção e a qualidade do produto final.

Os três tipos de testes de desenvolvimento mais conhecidos são: os testes de bancada, testes de planta piloto e os testes industriais. Os testes de bancada são mais simples e analisam a concepção do produto antes de entrar na linha de produção.

Os testes de planta piloto analisam como o produto e os insumos se comportam em um simulacro da produção industrial e os testes industriais são os mais próximos da realidade de produção, sendo aplicados da maneira mais fiel possível ao processo adotado na linha de fabricação.

Conclusão

Essas são algumas das melhores práticas que podem ser adotadas dentro das indústrias de alimentos para evitar o desperdício de insumos e garantir uma boa qualidade dos produtos entregues ao mercado.

Lembre-se que uma redução de perdas é o primeiro passo para otimizar a rentabilidade da empresa e fazer com que a atuação industrial seja ainda mais sustentável e menos poluente.

A perda de insumos já foi tratada como “ossos do ofício”, contudo, novas técnicas de produção e estratégias de controle de estoque mais eficientes são meios interessantes para reduzir os prejuízos.

Ao somar esses esforços com outros fatores, como a compra de insumos personalizados e de procedência garantida e testada são outros aspectos que dão ainda mais força para a missão de diminuir perdas e potencializar resultados.