Data: 25/03/2019

A produção alimentícia pode se beneficiar de novidades em diversas instâncias. As inovações podem ser tanto de origem mecânicas-tecnológicas até as que envolvem discussões ambientais, como a utilização de embalagens produzidas de maneira sustentável.

Nem toda a inovação encontra-se nas prateleiras. Na verdade, boa parte delas começa bem antes, e em muitos casos, nem chega até o consumidor final antes que seja amplamente discutida e viabilizada.

Mas vamos começar no início. No marco zero da indústria alimentícia e discutir as inovações presentes na escolha dos ingredientes. A gênese de todo alimento está em seus ingredientes.  Mas o que a indústria de alimentos tem feito para inovar?

O mercado exige mudanças da indústria e de seus fornecedores

De acordo com a empresa de pesquisa Nielsen, existe uma demanda global por produtos frescos, naturais e minimamente processados.

A explosão dos fast-foods e o grande crescimento no número de pessoas com problemas de saúde causados pela má alimentação ligou um alerta mundial: As pessoas precisam comer melhor.

A preocupação com questões nutricionais e alimentícias resultou em um boom na indústria de alimentos saudáveis. A expectativa é de um crescimento das indústrias de alimentos saudáveis de 4,41% ao ano até 2021, movimentando mais de 800 bilhões de dólares por ano, segundo o site Statista .

As mudanças de comportamento de consumo geram reflexos na indústria. Essa, por sua vez, sempre foca na otimização de seus produtos visando agregar valor para cliente, tanto no que diz respeito às questões de saúde quanto a aspectos econômicos.

Com consumidores mais preocupados com o que estão consumindo e exigindo da indústria alimentícia produtos mais saudáveis, fica clara a necessidade de inovação para contemplar e absorver as novas demandas do mercado.

Mas, por onde começa a inovação?


A inovação na indústria alimentícia é algo amplamente discutido. Afinal, alimentação é algo essencial, e exatamente por se tratar de algo tão importante, o mercado está sempre passando por transformações.

Vale ressaltar que inovar, quando o assunto são os alimentos, não é uma tarefa simples. Há uma grande rede de pesquisa e desenvolvimento que movimenta altas cifras. Somente este ano nos EUA, o orçamento para P&D nas áreas de alimentos e agricultura passa dos 2 bilhões de dólares.

Ou seja, inovar é preciso. Porém, é preciso muito dinheiro. Dentro desse universo de pesquisa, alguns exemplos da inovação no setor alimentício são as biossimulações, como o desenvolvimento de proteínas de origem animal em laboratório.

Há também o uso de máquinas dotadas de inteligência artificial, com capacidades cognitivas e ferramentas que potencializam a produção e reduzem as chances de erros/perdas devido à aplicação do conceito de machine learning.

Todas essas mudanças trazem efeitos para a cadeia de produção, ou ao menos apontam para alternativas para o futuro. Contudo, é preciso pensar em 3 fatores que impactam com força a inovação:

  1. Os custos envolvidos no desenvolvimento de novas técnicas e produtos;
  2. A aplicação dessas inovações no mercado, tanto para as indústrias de alimentos quanto para o varejo e os consumidores;
  3. A regulamentação burocrática de certas mudanças, uma vez que a comercialização e produção de alimentos possuem diversas regras e órgãos regulamentadores.

Diante desses três pontos, fica claro que viabilizar mudanças na indústria de alimentos requer esforço, investimento e análise de mercado. Nesse cenário, outro ponto se destaca: inovar nos ingredientes é muito mais palpável e traz mudanças rápidas e eficazes para os produtos formulados em uma indústria.

Resumindo: existem milhares de novos projetos que poderão mudar os rumos da indústria alimentícia, mas tudo começa nos ingredientes.

Essa realidade, somada à busca do público por alimentos de maior qualidade e menores danos ao organismo, faz a indústria alimentícia se movimentar em busca de bons fornecedores, que garantam a procedência e qualidade.

É quase impossível falar em indústria de alimentos sem falar de agricultura e agronegócio. Portanto, vamos a alguns dos pontos que tangenciam essa relação e que influenciam diretamente na inovação iniciada pelos ingredientes:

• O uso de insumos agrícolas

Os ingredientes são os insumos da indústria alimentícia. Contudo, no jargão da agricultura, insumos também são os fertilizantes e adubos utilizados no plantio e o alimento dado aos animais. A busca por ingredientes de melhor qualidade passa por conhecer qual a forma de utilizar os insumos agrícolas feita pelos fornecedores.

Alguns produtores rurais são adeptos de lavouras e criações orgânicas, sem a utilização de nenhum tipo de insumo artificial. Enquanto isso, outros utilizam e defendem o uso de fertilizantes sintéticos e defensivos agrícolas na busca por alimentos fortalecidos e protegidos contra pragas.

Indústrias que pretendem iniciar seu processo de inovação escolhendo por ingredientes orgânicos precisam conhecer a cadeia de produção de seus fornecedores e procurar produtores que possuem o selo que certifica a procedência orgânica.

• A tendência e conceito de Clean Label

O conceito de Clean Label nasceu da necessidade das empresas alimentícias informarem em seus rótulos (labels) a presença de ingredientes geneticamente modificados, com conservantes, com gorduras trans etc.

Quando o rótulo é limpo (clean), isso significa que o alimento preza pela saudabilidade do produto e pela utilização de ingredientes simples, identificáveis e reconhecíveis pelo consumidor. A busca é pela concepção de alimentos com o menor número daqueles ingredientes “misteriosos”, que as pessoas leem nos rótulos, mas não fazem a menor ideia do que se trata.

Esse conceito está mudando, e muito, a indústria de alimentos. Algumas pesquisas recentes feitas nos Estados Unidos apontaram que 75% dos consumidores consultados estão dispostos a pagar mais em um produto que seja “Clean Label”.

O conceito de Clean Label ainda engatinha no mercado brasileiro, mas já é uma enorme tendência discutida na Europa e nos Estados Unidos, onde a participação do consumidor nos processos de regulamentação dos alimentos é mais ativa do que no Brasil.

E porque essa tendência cresce a cada dia?

Simples, o acesso à informação e o avanço das pesquisas científicas conseguiram difundir nas mais diversas sociedades informações sobre a qualidade dos alimentos que consomem.

Basta dar uma leve pesquisada no Google ou no Youtube para encontrar documentários, artigos, programas de televisão e livros que abordam a qualidade da comida ingerida pelas pessoas no seu daily basisE vale ressaltar que a busca por ingredientes e produtos clean label demanda mais inovação ainda.

Um bom exemplo é o leite que consumimos. Para evitar a inserção de conservantes que poderiam trazer malefícios para o produto e para os consumidores, criou-se o sistema de pasteurização UHT e as famosas caixinhas de leite longa vida.

Foi pensando em reduzir as artificialidades e ofertar um leite mais puro que a indústria modificou a forma de embalar e comercializar o leite.

A busca pela eliminação das “Gorduras ruins”

Outra inovação bastante intensificada com as novas exigências do mercado consumidor foi a redução de gorduras trans e gorduras saturadas.

Já é fato confirmado que o consumo de gorduras trans e saturadas apresentam riscos à saúde, principalmente em excesso. O problema é que a maioria dos alimentos, principalmente os altamente processados e artificiais, possuem índices altos de gordura saturada.

A gordura é utilizada para confecção de diversos produtos, como biscoitos, bolos, macarrão instantâneo, sorvetes e muitos outros.

Dada o seu intenso uso – algo que, até o presente momento, não encontrou um substituto total -, é fundamental que os fabricantes procurem utilizar gorduras mais “limpas”, ou seja, que possuam menor presença de gorduras saturadas e trans, como, por exemplo, as gorduras low sat.

Esse tipo de inovação só é feito com muita pesquisa e uma boa dose de resiliência. Conceber produtos com baixos índices de ambas as gorduras é um grande desafio, já que a redução de gorduras trans é algo que eleva a presença das gorduras saturadas.

Mas o desafio vale a pena e tem finalidade nobre: entregar produtos mais saudáveis e menos danosos aos consumidores, ainda mais se tratando de um insumo altamente necessários para a concepção de diversos produtos.

Inovação na indústria e no campo: mãos dadas e um objetivo em comum


Existe uma íntima relação entre as indústrias de alimento e os provedores de ingredientes.

Não há como ser totalmente inovador só da fábrica para dentro, ainda mais quando as principais tendências de mercado envolvem alimentos menos processados e mais naturais.

O investimento da indústria alimentícia em inovação começa na sua parceria com o campo.

Grandes empresas buscam os melhores fornecedores e, em muitos casos, aliam-se a eles para desenvolver melhores ingredientes e trazer tecnologia para as lavouras e criações.

O conceito de ingredientes inovadores precisa equilibrar bem alguns aspectos:

  1. Funcionalidade;
  2. Segurança alimentar;
  3. Custo;
  4. Disponibilidade.

Cada um desses fatores pesa no momento da inovação. Afinal, a inovação que dá certo é aquela que se torna economicamente viável.

Por isso, os ingredientes precisam equilibrar esses 5 fatores, que são tão importantes, tanto na perspectiva empresarial (custo, funcionalidade e disponibilidade) quanto na questão gastronômica (segurança alimentar e sabor).

O desenvolvimento científico permitiu à indústria de alimentos otimizar seus produtos, mas isso só é possível quando se pensa os alimentos dentro de um ciclo, no qual a inovação se insere desde o princípio e é conduzida até o consumidor.